* texto: Alex Villegas, no site do Instituto Internacional de Fotografia
Há um certo ponto em nossas carreiras em que se torna necessário dar a
cara para bater – uma vez que temos uma identidade visual e um
portfolio representativo dessa identidade, é preciso mostrar esse
portfolio a potenciais clientes. E para isso, além do portfolio impresso
– sim, ele ainda é necessário, mesmo hoje em dia – precisamos afirmar
nossa presença onde mais se procuram serviços de fotografia: na
Internet.
Mas como se faz para ter essa presença na web, com um bom custo-benefício?
Ao procurar por “online portfolio” no Google, encontrei nada menos do
que 30 diferentes soluções para publicar suas imagens na web, algumas
gratuitas, outras pagas. Então, como escolher sua solução? Antes de mais
nada, cabe um pouquinho de estratégia.
PLANEJANDO
Em primeiro lugar, nosso portfolio na web é uma solução para um
problema específico. Para melhor determinar a solução, convém conhecer
melhor o problema. Então, antes de começar a pesquisar, faça-se as
seguintes perguntas:
Onde meus potenciais clientes procuram fotógrafos?
Como pretendo levar o cliente ao portfolio online?
O que preciso mostrar para convencê-lo a me contratar?
Que recursos adicionais seriam convenientes?
Posso integrar o serviço às minhas redes sociais?
Quais são os termos de publicação das minhas imagens? O provedor de
serviços de alguma maneira tenta se apropriar delas, ou pelo menos
lucrar com minhas imagens?
Anote as respostas – vai se surpreender com a quantidade de serviços
de publicação que são automaticamente desqualificados pelas respostas
dessas perguntas. Uma vez de posse dessas informações, vamos analisar
quatro diferentes opções:
FLICKR
É impossível falar em portfolio online sem falar no Flickr, um dos
serviços de compartilhamento de imagens mais populares da Internet. Com
ferramentas altamente desenvolvidas de busca e tagging (é possível
atribuir e buscar todo tipo de metadado nas imagens), normalmente é o
primeiro serviço a ser cotado, principalmente pela facilidade de uso e
de transição, já que a grande maioria dos apaixonados por fotografia
possui uma conta no Flickr.
O processo de cadastramento é fácil e direto, em www.flickr.com –
apenas alguns formulários depois, sua conta já está ativa, e é possível
entrar em diversos grupos de discussão de fotografia, além de poder
fazer buscas relacionadas a todas as tagsfotográficas. Ou seja, se você
acabou de adquirir uma super grande angular, pode procurar referências
do que está sendo feito com essa lente pela comunidade fotográfica.
Excelente para quem está aprendendo, não? E compartilhar as fotos é
muito simples – é possível fazer upload das imagens via celular, browser
de web, um pequeno software proprietário ou ainda do Lightroom 3, que
possui uma extensão para compartilhamento direto no serviço. As
publicações e comentários ainda podem ser facilmente disseminadas
através das redes sociais como Facebook e Twitter.
Contra todos esses benefícios está a interface, um pouco confusa para
um eventual cliente. Sim, porque é aos clientes que queremos mostrar o
nosso trabalho, e é nesse ponto que o Flickr nos frustra, por ser uma
comunidade fotográfica: a esmagadora maioria dos nossos visualizadores
lá serão outros fotógrafos.
Para contornar essas limitações, há ferramentas como o Zuinn, que
monta um portfolio de layout simples, a partir de suas galerias no
Flickr – seu endereço de web passa a ser algo como
www.zuinn.com/seuusuárionoflickr, e o visual fica mais organizadinho. E
sempre se pode registrar o domínio com o nome de seu interesse e
redirecionar para seu endereço no Zuinn.
Fica ainda o problema de levar o cliente até seu portfolio –
estratégias de SEO e divulgação nas redes sociais ficam mais
complicadas, além da falta de recursos como trilha sonora e vídeos.
Antes de optar pelo Flickr, com ou sem Zuinn, dê uma investigada
sobre qual a aceitação desse tipo de portfolio entre seus clientes. Em
determinados círculos, o serviço é muito bem aceito e tido como padrão, e
não se pode ignorar o acordo entre o Flickr e a Getty Images – esta
última procura fontes para banco de imagens lá, o que pode ser uma boa
para quem trabalha ou quer trabalhar com stock images. Em
outros segmentos do mercado, como casamento e publicidade, uma página no
Flickr é vista por muitos como evidente sinal de amadorismo.
CARBONMADE
Para quem deseja apenas a simplicidade de ter um portfolio online,
sem precisar abrir uma conta em um serviço de compartilhamento de fotos,
existem as opções como o Carbonmade (www.carbonmade.com).
A mais enxuta das opções, é extremamente fácil de configurar e fazer o
upload das imagens – definitivamente uma estrutura que não dá dor de
cabeça. Em um layout basicamente fixo, podemos montar uma sequência de
galerias, que podem conter fotos e/ou vídeos, além de preencher um
perfil com foto e informações de contato e tags para busca.
Tags para busca? Sim, porque o Carbonmade se propõe a ser não só uma
central de hospedagem de portfolios, mas uma rede pronta a fazer a
conexão cliente/artista. No campo de busca, um eventual cliente pode
digitar palavras chave como “fotógrafo de moda” e encontrar uma série de
portfolios desses fotógrafos para avaliar e posteriormente contratar.
É aí que encontramos alguns contras do sistema: é necessário que haja
o emprego desse tipo de solução por parte do cliente para que ele nos
encontre através do mecanismo. Na comunidade de ilustradores e artistas
digitais, além de fotógrafos autorais e mais alternativos, por exemplo, é
muito comum a busca e contratação de profissionais através de serviços
como o Carbonmade e DeviantArt. E esses serviços são muito mais
populares fora do Brasil, o que elimina boa parte dos potenciais
clientes.
Mesmo assim, o custo zero do portfolio e a extrema facilidade de uso
do Carbonmade faz dele uma boa opção de exibição de imagens online – mas
o usuário deverá fazer um esforço à parte para levar o cliente até seu
portfolio, visto que são poucos os que se beneficiam desse mercado que
contrata através do serviço.
LRB PORTFOLIO
Esta opção é realmente interessante para quem já possui um domínio
registrado e hospedado, e utiliza o Adobe Lightroom para gerenciar suas
imagens: o LRB Portfolio nada mais é do que um mecanismo de geração de
galerias de web do Adobe Lightroom, habilidosamente modificado para
produzir websites simples.
Depois de adquirir o mecanismo no website do desenvolvedor (www.lrbportfolio.com)
– sim, é um plugin pago, mas custa a bagatela de 15 euros – o processo é
bem simples: basta instalar o plugin e reiniciar o Lightroom que o
mecanismo fica disponível na aba Layout Style do módulo Web.
O sistema é relativamente intuitivo, e é possível montar um pequeno
website com página de abertura, seis galerias de até trinta imagens,
dois links externos (como links para um blog, por exemplo), página de
contato com links específicos para Flickr, MySpace, Facebook, Twitter e
LinkedIn, além dos meios naturais de contato (telefone e email). Uma
página para uso geral é disponibilizada, além de um campo para sua ID do
Google Analitycs – ou seja, há ferramentas de sobra para fazer seu
próprio SEO, ou divulgação na Internet. Apesar disso, como o website é
executado em Flash, os sistemas de busca não têm acesso ao texto contido
nas páginas – isso pode ser contornado com um pouco de edição no código
final, mas exige algum conhecimento e não é muito intuitivo.
Refazer as galerias também é algo muito rápido e tranquilo: basta
substituir as imagens e reexportar o site, tudo a partir do Lightroom,
como com qualquer galeria de web ou apresentação.
Mas essa rapidez e economia toda têm seus contratempos: fazer o
layout é algo complicado e cheio de limitações, então todos os sites
produzidos com essa ferramenta ficam com a mesma cara. Mesmo evitar que o
seu logotipo fique por cima das fotos ou que as imagens horizontais
fiquem muito maiores e mais evidentes do que as verticais é tarefa que
demanda um certo trabalho. Montar algumas imagens (especialmente a de
início) no Photoshop com margens assimétricas ou áreas escuras para
facilitar a diagramação pode ser extremamente útil. O Portfolio também
possui um irmão chamado LRB Exhibition, com a diagramação ligeiramente
diferente e outros recursos.
Não há espaço para vídeos, ou trilha sonora – o que não faz
diferença, dependendo do seu segmento de atuação no mercado fotográfico.
Se a simplicidade e visual “engessados” dos mecanismos da LRB são
suficientes para representá-lo na web, esta acaba sendo uma das soluções
de melhor custo benefício do mercado.
4ORMAT
Ainda na pegada dos sites minimalistas, um sistema que dá a
simplicidade visual do LRB Portfolio sem estar vinculado ao Lightroom é o
4ormat. Com uma interface extremamente simples e poucas opções de
layout, o forte do sistema é a praticidade e a curva de aprendizado
praticamente zero. É possível colocar links, elementos de texto e vídeo
em galerias específicas, e com um valor extremamente acessível: US$ 4,99
no plano básico.
Outras facilidades são a geração automática de versões do website
para iPad e iPhone, compatibilidade com o Google Analytics e o fato dele
aceitar o upload em alta resolução – o reescalonamento das imagens é
automático. Para quem quiser conferir, o site é www.4ormat.com.
SHOWIT! FAST
Para efeitos de classificação, considerei o ShowIt! como uma versão
anabolizada do LRB Portfolio – a interface do software inclusive lembra o
Lightroom. Mas as semelhanças param por aí, porque o ShowIt! não é uma
extensão, é um aplicativo individual, baseado em Adobe AIR (o mesmo
mecanismo de softwares como o Tweetdeck).
É o mais versátil da turma, permitindo trilha sonora, vídeos, as mais
diversas diagramações e layouts, cores e distribuições de links. É
possível baixar e experimentar o aplicativo – há uma versão disponível
para teste em http://www.showitfast.com/#/download/
– e uma vez registrado, ele dá acesso à área de templates, com muitos
modelos para serem integralmente usados ou editados a seu gosto. O
trabalho exige praticamente zero de conhecimento de código, sendo todo
baseado em drag and drop (arrastar e soltar) a partir de paletas específicas.
O website resultante é em Flash, mas o ShowIt gera um website paralelo em HTML que roda sem problemas em Iphones e Ipads.
A favor do ShowIt eu encontrei a extraordinária flexibilidade, a
facilidade de uso do software (que tem versão em português) e a
conveniência da implementação (inclui hospedagem do website, em um
domínio www.seunome.showit.com,
mas que pode ser redirecionado como todo domínio). A comunidade
brasileira de usuários está crescendo e pode ser encontrada em www.getshowit.com/brasil.
As ferramentas de SEO são bem desenvolvidas e fáceis de usar, criando
links para redes sociais e gerando um código com todas as tags do texto
utilizado no website para facilitar a tarefa dos mecanismos de busca.
Entre os contras, está o custo – 30 dólares por mês para os usuários
brasileiros, o que não é exatamente uma fortuna, mas eleva o ShowIt ao
posto de solução mais cara desta matéria.
Além disso, por ser em base Flash e suportar vídeo, som e exibição em
tela cheia, os websites tendem a se tornar bastante pesados, e em
tempos de briga entre as plataformas Flash e HTML5, não sabemos
exatamente se ou quando o formato Flash se tornará obsoleto.
CONCLUINDO
Aqui foram analisadas apenas algumas poucas opções – procurei eleger,
dentre as principais categorias de serviços, as mais importantes.
Similares são fáceis de encontrar em todas as categorias, e funcionam
basicamente da mesma maneira, apenas mudando preço e algumas
funcionalidades, algumas vezes nem isso.
Mais do que soluções estéticas, esses serviços trazem identidade ao
fotógrafo, então lembre-se de direcionar a sua presença na web em
relação ao seu público alvo – se gosta de fazer retratos de bandas de
rock alternativo, um Carbonmade/DeviantArt é mais do que recomendável.
Pessoas comuns têm muito acesso ao Flickr, os clientes de casamento
gostam muito de vídeos e trilhas sonoras, editores de moda gostam de
minimalismo. Cada mercado tem suas sutilezas.
Apenas uma regra é geral, contudo: suas imagens dizem quem você é
artisticamente, mas é o seu website que descreve quem você é
comercialmente. Pense nisso e bons negócios!
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