quarta-feira, 31 de agosto de 2011

A LITERATURA NO CINEMA



Festival Adaptação leva filmes raros e debates com grandes nomes da literatura e do cinema latino-americanos ao Rio de Janeiro
As atividades ocorrerão na CAIXA Cultural e no Espaço SESC
O Projeto Adaptação: a Literatura no Cinema cresceu e ganhou status de festival dedicado à produção literária e cinematográfica latino-americana. Entre os dias 23 de agosto e 04 de setembro, a CAIXA Cultural do Rio de Janeiro abrigará exibições de películas do México, Argentina, Cuba e Brasil em sessões raras ou inéditas em terras brasileiras. As sessões de cinema serão seguidas de debates com diretores, roteiristas e escritores nacionais e internacionais.

Paralelamente, palestras gratuitas serão realizadas no Espaço SESC com a participação de pesquisadores e expoentes do cinema e da literatura nacional. O Festival Adaptação - Edição América Latina é uma produção da Daza Cultural, comandada pela jornalista Carolina Benjamin, a atriz Leandra Leal e a roteirista Rita Toledo. Carolina e Rita assinam a curadoria do Festival ao lado do roteirista Lucas Paraizo.

Lucas é também diretor do documentário que abre a programação em sessão de pré-estreia. “O Roteirista”, que dá o tom do Festival, será exibido nesta segunda-feira (22) no Estação SESC espaço, às 21h. Após a exibição, a festa será animada pela DJ Tati da Vila. O filme traz depoimentos de importantes roteiristas brasileiros em atuação ao revelar um panorama da produção atual e abrir campo para as questões estéticas e políticas que envolvem a escrita para o cinema hoje.

“Um dos principais objetivos do Festival é ser ponto de encontro e troca de ideias entre autores, artistas, escritores e diretores, e oferecer ao público a oportunidade de fazer parte deste debate”, explica Carolina Benjamin, idealizadora do projeto. “Embora não tenha como foco a relação do cinema com a literatura objetivamente, o documentário de Lucas Paraizo joga luz neste personagem que em geral permanece pouco visto - às vezes por opção própria - no universo dos autores das produções cinematográficas: o roteirista”, completa Rita Toledo.

Mostra Latino-americana

Alguns clássicos, difíceis de serem vistos nas telas brasileiras, fazem parte da Mostra de Filmes da CAIXA Cultural. Um exemplo é “O Galo de Ouro”, de Roberto Gavaldón: primeiro roteiro para cinema de Gabriel García-Márquez adaptado em 1964 a partir do original do Mexicano Juan Rulfo. A versão director’s cutde "Lista de Espera", recém-finalizada por Juan Carlos Tabio, será exibida pela primeira vez fora de Cuba. Os dois roteiristas, Arturo Arango e Senel Paz, estarão no Rio a convite do Festival para conversar com o público após a exibição do longa.

Um dos destaques da curadoria são as dobradinhas de diferentes adaptações a partir do mesmo livro. “É a chance de assistir duas versões de Pedro Páramo, um dos livros mais importantes da literatura mexicana, para os cinemas. O filme de Carlos Velo competiu com Terra em Transe, de Glauber Rocha, no Festival de Cannes em 1967”, exemplifica Lucas Paraizo.

Pela primeira vez, o público carioca vai ter o privilégio de assistir duas adaptações de Edmundo Desnoes. A primeira, o clássico "Memórias do Subdesenvolvimento" (Cuba, 1968), de Tomás Gutiérrez Alea, considerado o melhor filme cubano de todos os tempos e o segundo intitulado “Memórias do Desenvolvimento” (Cuba /EUA, 2010), a recente versão do atrevido Miguel Coyula, outro cubano que vem colhendo prêmios por onde passa: Festival de Havana, Málaga, entre outros.

O diretor de “Plata Quemada”, Marcelo Piñeyro, é um dos grandes nomes do cinema argentino que virá ao Brasil. Além do filme que o projetou para o mundo, outra adaptação, “O que você faria”, também participa da Mostra. Do México, virá a renomada roteirista Paz Alicia Garciadiego. Raridade em telas brasileiras, fruto da parceria da mexicana com Arturo Ripstein, o clássico “Principio y Fin” (México, 1993) fechará o festival. Após as sessões, Paz Alicia participará de bate-papo com o respeitado crítico de cinema José Carlos Avellar.

Mostra Brasil

Obras brasileiras enriquecerão a Mostra, que conta com três pérolas de Walter Lima Jr: “Menino de Engenho”, de 1965, “Inocência”, de 1983, e “A Ostra e o Vento”, de 1997. Walter vai ao Festival falar sobre seu processo de trabalho junto com Leandra Leal, atriz revelada pelo próprio diretor.

Machado de Assis e Graciliano Ramos ocupam lugares especiais no evento. Serão confrontadas duas visões cinematográficas sobre a obra machadiana Brás Cubas: "Memórias Póstumas" (2001), de André Klotzel, sob um olhar mais tradicional; e “Brás Cubas" (1985), de Julio Bressane, com uma abordagem mais experimental. Dois clássicos da literatura nacional adaptados por dois mestres do cinema nacional estão na programação: “Vidas Secas”, por Nelson Pereira dos Santos, e “São Bernardo”, de Leon Hirszman.

Outros destaques são o bate-papo com Marcelo Rubens Paiva e Flávio Tambellini após a exibição de “Feliz Ano Velho e“Malu de Bicicleta” e o debate sobre “A Experiência Cubana na Escola de Cinema EICTV”, com a participação de Orlando Senna, presidente da TAL –Televisão América Latina, ex-diretor da EICTV e ex-secretário do Audiovisual.
Debates no Espaço SESC

As palestras gratuitas do Espaço SESC ocorrerão às terças e quartas-feiras (23, 24, 30 e 31 de agosto). Serão duas mesas por dia: às 18hs, um ciclo organizado por Tadeu Capistrano, que conta com a participação de pesquisadores das principais universidades cariocas. E às 20hs, renomados cineastas e escritores, cujas obras estão em produção, conversarão com o público sobre os diferentes estágios do processo de adaptação de uma obra literária para o cinema.

É o caso de Milton Hatoum, com três livros sendo adaptados para o audiovisual: “Dois Irmãos”, a ser dirigido por Luiz Fernando Carvalho para TV; “Relato de um Certo Oriente”, assinado por Marcelo Gomes, e “Órfãos do Eldorado”, por Guilherme Coelho, ambos para o cinema. Maria Camargo, co-roteirista das três obras, estará presente para guiar a conversa com o público.

Daniel Galera, autor de “Cordilheira” e “Cão Sem Dono”, conversará com o produtor Rodrigo Teixeira, idealizador da série “Amores Expressos” e responsável pela iniciativa de adaptar a música “Olhos nos Olhos”, por Karim Ainouz. Walter Carvalho, que recentemente comprou os direitos do livro “Búfalo”, do jovem escritor Botika, encerra o ciclo em conversa com o autor.



Serviço:

CAIXA Cultural Rio de Janeiro – Cinemas 1 e 2 Endereço
Av. Almirante Barroso nº 25, Centro (estação metrô Carioca)


Espaço SESC

Rua Domingos Ferreira, 160 – Copacabana – RJ

Data: entre os dias 23 de agosto e 04 de setembro


Mais informações
www.literaturanocinema.com.br

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

FEIRA CULTURAL DA FOTOGRAFIA - EU PARTICIPO !


AMIGOS, MAIS UMA VEZ ESTAREI EXPONDO FOTOS MINHAS !  A FEIRA CULTURAL É UM COLETIVO DE FOTÓGRAFOS QUE EXPÕEM DURANTE UM DIA INTEIRO SUAS FOTOS E FICAM LÁ PARA CONVERSAR COM OS VISITANTES. A TROCA DE INFORMÇÕES E CONHECIMENTOS É RIQUÍSSIMA. PARTICIPAM FOTÓGRAFOS PROFISSIONAIS E DE GRANDES VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO E TAMBÉM FOTÓGRAFOS AMADORES.

ESTE MÊS ESTAREI COM A MOSTRA "O ESSENCIAL É INVISÍVEL AOS OLHOS".

COM FOTOS MINHAS E TEXTOS INSPIRADOS POR ELAS, ESCRITOS PELO MEU AMIGO JOÃO SIQUEIRA.

Foto: Luciana Monteiro. Domingo no parque. RJ, 2011.
-- --
SERVIÇO:
MUSEU DA REPÚBLICA (ao lado do metrô do Catete)
Rua do Catete, 45. Catete.
Rio de Janeiro, Brazil
Domingo, 28 de agosto
Das: 09:00 - 17:00








segunda-feira, 22 de agosto de 2011

MINHAS FOTOS NA EXPOSIÇÃO DO MUSEU DA REPÚBLICA

FOTO LUCIANA MONTEIRO. MÃOS DADAS. RJ, 2010.


MAIS UMA VEZ ESTAREI PARTICIPANDO DA FEIRA CULTURAL DA FOTOGRAFIA.

SERÁ DIA 28 DE AGOSTO - DOMINGO AGORA !
DAS 09H AS 17H
NOS JARDINS DO MUSEU DA REPÚBLICA
ENDEREÇO: RUA DO CATETE, 45. CATETE. RIO DE JANEIRO

[PONTO DE REFERÊNCIA: BEM AO LADO DO METRÔ DO CATETE]


QUEM ESTIVER NO RIO, APAREÇA ! 

ESTA FEIRA ACONTECE TODO ÚLTIMO DOMINGO DO MÊS. NESTE DOMINGO ESTAREMOS COMEMORANDO 12 ANOS DE SUA EXISTÊNCIA. A EXPOSIÇÃO É DEMOCRÁTICA, JUNTANDO NO MESMO ESPAÇO FOTÓGRAFOS AMADORES E PROFISSIONAIS. ALÉM DE TERMOS CONTATO COM O PÚBLICO.

_EU ESTAREI LÁ MOSTRANDO FOTOS MINHAS E TEXTOS FEITOS PARA ELAS PELO ESCRITOR JOÃO SIQUEIRA. 

DESSA VEZ MOSTRAEI FOTOS BEM DIFERENTES DO QUE MOSTRO, NÃO SERÃO FOTOJORNALISMO, NEM FOTOS P/B. PENSO NAS FOTOS COMO REGISTROS SINGELAS, QUE MOSTRAM O INVISÍVEL DO COTIDIANO. POR ISSO TO SEGUINDO O TEMA "O ESSENCIAL É INVISÍVEL AOS OLHOS"; E OS TEXTOS QUE JOÃO ESCREVEU INSPIRADO EM MINHAS FOTOS SÃO LINDOS.



SERÁ UM BELO DOMINGO DE SOL ! DE BELAS FOTOS ! DE POESIA !

sábado, 20 de agosto de 2011

MINHAS FOTOS NA EXPOSIÇÃO DA TV BRASIL

© Foto de Luciana Monteiro. Lapa branca/RJ, 2011.


PARA COMEMORAR O DIA MUNDIAL DA FOTOGRAFIA - 19 DE AGOSTO - A TV BRASIL E RÁDIOS EBC ESTÃO PROMOVENDO A EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA "UM OLHAR SOBRE O RIO DE JANEIRO".

O CONCURSO PARA ESCOLHA DAS FOTOS FOI FEITO COM AS PESSOAS QUE TRABALHAM NA TV OU NAS RÁDIOS DA EBC - EMPRESA BRASILEIRA DE COMUNICAÇÃO. PODÍAMOS ENVIAR TRÊS (03) FOTOS PARA A CURADORA DA EXPOSIÇÃO.

ENVIEI 03 E TODAS AGORA ESTÃO NA EXPOSIÇÃO !

© Foto de Luciana Monteiro. Som na Lagoa/RJ, 2008.


QUEM QUISER - E ESTIVER AQUI NO RIO - PODE IR VISITAR A EXPOSIÇÃO.


-- --
NO ESPAÇO CULTURAL DA TV BRASIL
RUA DA RELAÇÃO, 18. CENTRO. RIO DE JANEIRO
DAS 09H AS 18H - SEGUNDA A SEXTA
ATÉ 09 DE SETEMBRO

© Foto de Luciana Monteiro. Escadaria Selaron. Lapa/RJ, 2011.


sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Filme | Pelos meus olhos



Pelos Meus Olhos
Espanha/2003
106 min.
Drama
Direção: Icíar Bollaín

Linda fotografia neste drama de uma mulher que lida com a violência e a paixão do seu marido. Filme é referência em debates sobre a violência doméstica. Apesar da triste temática, encantei-me pelo filme. E pela (repito) linda fotografia.

Está passando agora na TV Cultura.

EXPOSIÇÃO | "Olhar Carioca"

Foto: Márcia Foletto




Foi inaugurada nessa terça-feira (16), a exposição "Olhar Carioca”. A mostra exibe obras de cinco grandes fotojornalistas do jornal O Globo: Custódio Coimbra, Ivo Gonzalez, Leonardo Aversa, Marcelo Carnaval e Márcia Foletto.

Ao todo são 50 fotografias, que serão expostas em duas etapas diferentes: 25 fotos (5 de cada fotógrafo) serão  expostas por um mês e meio e em seguida trocadas por outras 25.

"Nossa ideia era fazer uma exposição mostrando a visão que o fotojornalista, um conhecedor das sutilezas da cidade, tem do Rio. E o grande desafio que criamos para eles foi fazer em preto e branco. Para isso, convidamos cinco dos melhores profissionais do jornal" - explica Ricardo Mello, curador da mostra.
A exposição fica em cartaz até o dia 31 de outubro, no 2º piso do shopping RioSul e pode ser visitada de segunda a sábado das 10h às 22h e aos domingos e feriados, das 15h às 21. A entrada é franca.



_do O Globo

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

terça-feira, 16 de agosto de 2011

CACHAÇA CINEMA CLUBE | CINEMA ODEON


ANIVERSÁRIO DE 9 ANOS DO CACHAÇA CINEMA CLUBE

19 DE AGOSTO DE 2011

NOVOS E NOVÍSSIMOS: UM ENCONTRO DE GERAÇÕES
EM HOMENAGEM A GUSTAVO DAHL


Cinema Odeon, Rio de Janeiro, agosto de 2002. Uma sessão de filmes, seguida de degustação de cachaça, encontros, discussões informais e festa. Casa cheia, realizadores presentes, papos em dia. A primeira vez no letreiro: Cachaça Cinema Clube.

Desde então, a noite se repete, uma quarta-feira por mês. Tem gente que não perde um. Outros descobriram agora. Tem gente que já parou de ir e voltou. Tem gente que sai revoltado com os filmes exibidos. E vira frequentador assíduo. Para os íntimos, virou simplesmente ?o? Cachaça. E no dia 19 de agosto é dia de comemorar o aniversário de 9 anos do cineclube mais famoso, mais legal e menos careta da cidade. (À data não cabe modéstia). Até mudamos a sessão de dia neste mês: de quarta para sexta-feira, para a celebração ficar realmente especial.

O cineclube já exibiu todos os grandes diretores do cinema brasileiro, tanto do passado e do presente quanto do futuro. E, tendo levado ao cinema Odeon mais de 45 mil pessoas ao longo desses anos, se tornou muito mais do que ?a boa de quarta-feira?, marcando território na formação de público e na garantia de exibição do cinema brasileiro. Por isso, o Cachaça não é só diversão, mas também é, e das boas.

As comemorações do Cachaça tentam acompanhar o agitado ano de 2011 para a arte cinematográfica: retrocessos no posicionamento político do Ministério da Cultura, recordes de bilheteria e ocupação das salas, emergência dos coletivos, do cinema independente, dos blockbusters televisivos, discussões estéticas, celeumas nem tão novas assim... e até censura! A noite será de encontro de gerações e gritos pela liberdade. E, nessa sessão especial, a homenagem vai para o querido Gustavo Dahl, diretor, crítico e gestor cultural, que batalhou por toda a vida pelo engrandecimento do cinema brasileiro, falecido em julho passado.



A FESTA
Além da tradicional combinação de Cachaça Claudionor, a 3ª melhor do Brasil, batida de gengibre do boteco Belmonte e DJ H, contamos, para comemorar os 9 anos do Cachaça Cinema Clube, com a banda de maior ibope e destaque de nossa recente história. Os Vulcânicos, com suas versões lança-chamas de clássicos do rock?n?roll, protagonizaram, em março de 2010, o melhor show já realizado em nossa envenenada festa cineclubista . O grupo, formado por Filipe Proença (voz /baixo), Dony Escobar (guitarra /voz) e Zozio Leão (bateria) flertam com o rock?n?rRoll 50´S e 60`s, rockabilly, surf music, jovem guarda e versões instrumentais para trilhas sonoras de clássicos do cinema. Tudo muito bem embalado e pronto pra explodir como um coquetel Molotov.

Além dos Vulcânicos contaremos com a apresentação de um convidado pra lá de ilustre: MC Fininho. Heterônimo do compositor e artista plástico Cabelo, MC Fininho, ao lado de diversos convidados especiais, traz à tona a atmosfera dos bailes funks antigos. Segundo Raul Mourão, trata-se de um funkeiro ancestral, animador de bailes, pesquisador musical, antropólogo das biroscas, repórter das vielas e florestas e compositor de funks. Cabelo, cujo filme sobre uma de suas bandas,Boato, há muito foi exibido no cineclube, além do cult A Peruca de Aquiles de Paulo Tiefenthaler, no qual participa como ator, está mais do que credenciado para elevar a moral dessa comemoração. Sany Pitbull, Jongui, Berna Ceppas, Marcelo Lobato e Kassin são alguns nomes que assinam a produção dos funks. MC Fininho além de letrista e intérprete é um grande performer, então vem com tudo que é diversão garantida.


OS FILMES


A dama do Peixoto, de Allan Ribeiro e Douglas Soares, 2011, 11?
"Ela está aqui, está ali, e os invisíveis são os outros."

Longa vida ao cinema cearense, de Irmãos Pretti, 2008, 11?
?Curiosidade. Um conselho aos jovens: curiosidade.?

Desassossego 9: um índio, um robot, o raio laser, de Felipe Bragança, 2011, 5?
Fragmento integrante do filme Desassossego (Filme das Maravilhas), que conta com 10 fragmentos de 14 diretores de 4 estados brasileiros em resposta a uma carta sobre utopia, amor e aventura. Neste fragmento: uma índia segue sozinha na mata, até que escuta os passos de seu perseguidor.

Maria Gladys: uma atriz brasileira, de Norma Bengell, 1979, 10?
Ao som de "Índia", canção interpretada por Gal Costa, Maria Gladys fala diretamente para a câmera e dialoga com Norma Bengell. A entrevistada, que começou a carreira dançando rock, atuou junto com a cineasta em filmes de Domingos Oliveira, Júlio Bressane, Antônio Calmon e Neville D'Almeida.

Meio-dia, de Helena Solberg, 1969, 10?
Revolta em sala de aula, ao som de ?É proibido proibir?.

Sangue Corsário, de Carlos Reichenbach, 1979, 10?
Perambulando por São Paulo durante a hora de almoço, um bancário encontra um amigo da década de 60 na galeria Metrópole. Trata-se de um poeta e andarilho urbano com o qual o atual bancário viveu intensamente os anos da contracultura. O tempo e a sobrevivência fez os dois escolherem profissões e caminhos existenciais opostos. É deste confronto entre opções de vida que o filme fala. Ao mesmo tempo, o entrecho é pretexto para o registro da obra poética, urbana e errática, de Orlando Parolini.

+ trechos do programa SRTV, 1976-1980, 15?


 
Cachaça Cinema Clube
Dia 19 de agosto de 2011, de 21h às 4h
Cinema Odeon Petrobras
Praça Floriano, nº 7. Cinelândia
Entrada: 10 reais (promoção meia para todos até 0h)/20 reais (inteira)
Após 0h: 15 reais (meia)/30 reais (inteira)

sábado, 13 de agosto de 2011

Roteiro para ver Art Déco no Rio

CONSTRUÇÕES EM ART DÉCO:

Edificio Biarritz - projetado em 1940 por Henri Paul Pierre Sajous e Auguste Rendu, tem varandas curvas e grades ornamentais. O requintado portão de ferro segue o estilo de serralheria das varandas.
Praia do Flamengo – 268.


Edifício Brasil - construído em 1936 por Leopoldo Queiroz, o prédio tem portaria exuberante, outra marca do estilo.
Rua Fernando Mendes, 19 – Copacabana.




Edifício Ipu - construção emblemática da vertente paquebots, influenciada pela arquitetura dos navios. As janelas lembram escotilhas, e as varandas arredondadas, os deques dos transatlânticos. De 1935, foi desenhado por Ari Leon e Floriano Brilhante.
Rua do Russel, 496 – Glória.

Edifício Tabor Loreto - foi construído seis anos depois do vizinho Biarritz e pelo mesmo arquiteto. O portão se distingue pelo trabalho de serralheria, cheio de rendilhados em verde.
Praia do Flamengo, 244.

Edifício Itahy - exemplo explícito da influencia indígena no art déco brasileiro. No pórtico, uma sereia índia dá as boas-vindas. Projetado em 1932 por Arnaldo Gladosch.
Av. Nossa Senhora de Copacabana – 252

Central do Brasil - construída em 1937 por Roberto Magno de Carvalho e Robert Prentice, o edifício tem estilo aerodinâmico e se serve das formas geométricas. A torre de 135 metros de altura com o relógio de 4 faces no topo é o elemento de distinção.

Mulher com ânfora - encomendada pelo prefeito Pedro Ernesto, em 1934, a escultura de bronze de Humberto Cozzo já esteve em diversos pontos da cidade até chegar à vizinhança da igreja da candelária. Formas femininas estão entre os motivos preferidos dos artistas da art déco.
Praça Pio X – Candelária – Centro.

Edifício Serrador - um dos mais belos no estilo.
Praça Mahatma Gandhi, 14 - Cinelândia.



Antigo Cine Pathé e Edifício Natal - projetos de Ricardo Wriedt, de 1927.
Praça Floriano, 45 (cinema) – Centro.
Rua Álvaro Alvim, 48 (entrada do edifício).

Edifício Odeon.
Praça Mahatma Gandhi, 2 – Cinelândia.

Edifício Regina – prédio do Teatro Dulcina.
Rua Alcindo Guanabara 17 a 23 – Cinelândia.

Edifício Coronel Bueno - prédio art-déco de 1929.
Rrua Senador Dantas, 41 - Centro.

Antigo Cine Plaza - prédio art-déco de 1934.
Rua do Passeio, 78 – Centro.

Cine Vitória (Ed. Rivoli) - edifício art-déco de 1939.
Rua Senador Dantas, 43 / 45 / 47- Centro.

Centro administrativo regional do trabalho.
Praça XV – Centro

Asociação comercial do Rio de Janeiro.
Rua da Candelária , 9 – Centro.

Palácio Duque de Caxias.
Praça Duque de Caxias, 260 – Centro.

Loja Arezzo.
Rua Gonçalves Dias, 13 – Centro.

Bar Lagoa.
Epitácio Pessoa – Lagoa.

Casa Cavé.
Rua Sete de Setembro, 133 – Centro.

Casa Marajoara.
rua paissandú, 319 – Flamengo.

Edifício Paissandu.
Rua Paissandu, 93 – Flamengo.

Edifício São João.
Rua Senador Euzébio, 14 – Flamengo.

11º Congresso Mundial de Art Déco | no Rio




De 14 a 21 de agosto, o Rio de Janeiro será a capital do Art Déco. 
Exposições, visitas guiadas, vernissage, apresentações, palestras, mesa-redondas e shows farão parte da programação do congresso. 



Sobre o Evento

O Congresso Mundial de Art Déco é um evento bienal que acontece pela primeira vez na América Latina, em 2011. Acontecerá um minitour  por Copacabana, o “Circuito Pérolas do Lido”, onde os participantes podem observar as construções no estilo Art Déco espalhadas  pelas ruas do bairro.

O Rio de Janeiro é o local no Brasil que mais concentra esses tipos de construções, devido à influencia que sofreu nos anos 20. A arquitetura Art Déco nasceu na França e inspirou a elite carioca. Virou sinônimo de glamour e modificou o hábito de moradia na cidade, levando a alta sociedade acostumada com seus palacetes a morar em prédios, onde a decoração geométrica dava novo contorno à cidade. Um sinônimo de escultura em Art Déco é justamente o maior cartão postal do Rio e do Brasil: o Cristo Redentor. A escultura completa 80 anos em 2011.

Na programação de palestras estão grandes nomes que são referência no estilo. Especialistas de reconhecimento internacional e convidados do mundo todo fazem parte dos presentes, entre eles Robin Grow, presidente da Art Déco & Modernism Society; a francesa Florence Camard, expert no estilo; Michèle Lefrançois, doutora em História da Arte, do Musée des Années 30 e o arquiteto e historiador, Fabio Grementieri. Há também uma programação especial de pré-evento em São Paulo.



quinta-feira, 11 de agosto de 2011

CURSO | A FOTOGRAFIA BRASILEIRA MODERNA E CONTEMPORÂNEA

Estão abertas as inscrições para o curso A fotografia brasileira moderna e contemporânea, que será realizado no IMS-RJ nos dias 16, 17 e 18 de agosto. Os alunos terão aulas teóricas com Helouise Costa, curadora do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP) e coautora do livro A fotografia moderna no Brasil; Maurício Lissovsky, historiador e professor da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Milton Guran, fotógrafo e coordenador do FotoRio; e Sergio Burgi, coordenador de fotografia do Instituto Moreira Salles.

O objetivo do curso é permitir aos alunos um exame da produção fotográfica brasileira dos anos 1940 até hoje, tendo como referência o panorama internacional do período, em boa parte representado por significativas obras presentes na mostra Extremos, atualmente em exibição no IMS. O curso analisará ainda a inserção gradual da fotografia brasileira moderna e contemporânea no cenário da fotografia internacional.

Veja a programação completa abaixo:

– 16/08 (terça-feira), das 19h às 21h
Aula com Helouise Costa – Fotoclubismo e fotojornalismo no Brasil (1940-1950): duas manifestações da fotografia moderna

– 17/08 (quarta-feira), das 19h às 21h
Aula com Maurício Lissovsky – A fotografia nas décadas de 1960 e 1970: modernismo em crise

– 18/08 (quinta-feira), das 19h às 21h
Aula com Milton Guran e Sergio Burgi – A fotografia brasileira moderna e contemporânea e sua inserção no cenário internacional


Valor: R$ 60,00. Estudantes com carteirinha pagam meia (R$ 30,00)
Carga horária total: 6 horas
Inscrições somente na recepção do IMS-RJ



SAIBA MAIS SOBRE OS PROFESSORES:


Helouise Costa é docente e curadora do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, onde atua desde 1993. Ministra disciplinas nas áreas de fotografia, museologia e arte contemporânea em cursos de graduação e pós-graduação. Publicou os livros Sem medo da vertigem – Rafael França (Marca d’Água, 1997); Waldemar Cordeiro: a ruptura como metáfora (Cosac Naify, 2002) e A fotografia moderna no Brasil (Cosac Naify, 2004), além de diversos artigos em catálogos de exposição e periódicos especializados. Como curadora, seus trabalhos mais recentes foram: Um dia terá que ter terminado, 1969-1975 (2011); Entre atos, 1964/68 (2009), Fotógrafos da vida moderna e Heresias – Uma retrospectiva de Pedro Meyer (ambas de 2008).

Maurício Lissovsky é historiador, roteirista e doutor em comunicação. Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde leciona estética e teoria visual. Dedica-se, em especial, à história e à teoria da fotografia. Em 2009, publicou A máquina de esperar; origem e estética da fotografia moderna.

Milton Guran é fotógrafo e antropólogo. Realizador e coordenador-geral do FotoRio – Encontro Internacional de Fotografia do Rio de Janeiro, foi curador convidado do MEP – Maison Européenne de la Photographie (Paris) para a exposição do Mois de la Photo de 2010. É autor de Agudás – Os brasileiros do Benim (Nova Fronteira, 2000) e Linguagem fotográfica e informação (Gama Filho, 2002, 3ª ed.). Ganhou prêmios como o Vitae (1990), o X Prêmio Marc Ferrez da Funarte (1998) e o Prêmio Pierre Verger da Associação Brasileira de Antropologia (Prêmio Especial do Júri – 2002), o Prêmio Ori 2007 da Prefeitura do Rio de Janeiro e o Prêmio Orilaxé 2009 do Grupo Cultural Afroreggae. É pesquisador associado ao LABHOI – Laboratório de História Oral e Imagem da Universidade Federal Fluminense e membro da diretoria executiva da RPCFB – Rede de Produtores Culturais da Fotografia no Brasil.

Sergio Burgi foi coordenador do Centro de Conservação e Preservação Fotográfica da Fundação Nacional de Arte, no Rio de Janeiro, entre 1984 e 1991. É membro do Grupo de Preservação Fotográfica do Comitê de Conservação do Conselho Internacional de Museus (ICOM) e, desde 1999, coordena a área de fotografia e a Reserva Técnica Fotográfica do Instituto Moreira Salles (IMS), principal instituição voltada para a guarda e a preservação de acervos fotográficos no Brasil.


Instituto Moreira Salles – Rio de Janeiro
Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea
Tel.: (21) 3284-7400

terça-feira, 9 de agosto de 2011

TEXTO | Ode ao Gato, Pablo Neruda

Cherrie, maio 2011


Os animais foram feitos
imperfeitos,
compridos de rabo, tristes
de cabeça.
Pouco a pouco se foram
compondo,
fazendo-se paisagem,
adquirindo pintas, graça vôo.
O gato,
só o gato apareceu completo
e orgulhoso:
nasceu completamente terminado,
anda sozinho e sabe o que quer.

O homem quer ser peixe e pássaro,
a serpente quisera ter asas,
o cachorro é um leão desorientado,
o engenheiro quer ser poeta,
a mosca estuda para andorinha,
o poeta trata de imitar a mosca,
mas o gato
quer ser só gato
e todo gato é gato do bigode ao rabo,
do pressentimento à ratazana viva,
da noite até os seus olhos de ouro.

Não há unidade
como ele,
não tem
a lua nem a flor
tal contextura:
é uma coisa
só como o sol ou o topázio,
e a elástica linha em seu contorno
firme e sutil é como
a linha da proa de uma nave.
Os seus olhos amarelos
deixaram uma só
ranhura
para jogar as moedas da noite .

Oh pequeno imperador sem orbe,
conquistador sem pátria,
mínimo tigre de salão, nupcial
sultão do céu
das telhas eróticas,
o vento do amor
na intempérie
reclamas
quando passas
e pousas
quatro pés delicados
no solo,
cheirando,
desconfiando
de todo o terrestre,
porque tudo
é imundo
para o imaculado pé do gato.

Oh fera independente
da casa, arrogante
vestígio da noite,
preguiçoso, ginástico
e alheio,
profundíssimo gato,
polícia secreta
dos quartos,
insígnia
de um
desaparecido veludo,
certamente não há
enigma na tua maneira,
talvez não sejas mistério,
todo o mundo sabe de ti e pertences
ao habitante menos misterioso
talvez todos acreditem,
todos se acreditem donos,
proprietários, tios
de gato, companheiros,
colegas,
discípulos ou amigos do seu gato.

Eu não.
Eu não subscrevo.
Eu não conheço o gato.
Tudo sei, a vida e o seu arquipélago,
o mar e a cidade incalculável,
a botânica
o gineceu com os seus extravios,
o pôr e o menos da matemática,
os funis vulcânicos do mundo,
a casca irreal do crocodilo,
a bondade ignorada do bombeiro,
o atavismo azul do sacerdote,
mas não posso decifrar um gato.
Minha razão resvalou na sua indiferença,
os seus olhos têm números de ouro.

_Pablo Neruda

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Livros lidos em 2011

1. dewey - um gato entre livros
2. crônica de uma morte anunciada
3. memórias de minhas putas tristes
4. a bela e a fera
5. o reino entre nós
6. Bush 2: a missão e outras reflexões sobre o mundo globalizado
7. Flavio Damm: 25 inéditas
8. como gorvenar o mundo
9. manual de telejornalismo
10. o outono do patriarca
11. 1968 - o ano que não terminou


_mais revistas veja e veja rio...

Ideias CCBB | O Humor na Mídia e nas Artes

 

Desde que o samba é samba, a MPB se deixou contaminar pelo humor e pela sátira social. Amanhã acontece no CCBB Rio um debate sobre humor com o cantor Eduardo Dussek e o jornalista, escritor e produtor cultural Nelson Motta.

O programa Humor & Companhia tem por objetivo mostrar e discutir o humor que se faz hoje na mídia impressa, TV e internet e nas artes – cinema, teatro, circo, MPB, artes plásticas, literatura. Numa série de nove encontros, o ciclo acontece mensalmente e trará sempre uma atração para ilustrar a discussão. Até dezembro, Humor & Companhia levará ao CCBB artistas de renome nacional, jornalistas e intelectuais, entre eles Amir Haddad, Antonio Prata, Cláudio Torres Gonzaga, Fred Coelho, Luiz Zerbini, osgemeos, Paulinho Serra, Tutty Vasques.



-- --
09 de agosto de 2011
Local: Teatro I | CCBB RJ
Horário: Terça, às 18h30
Endereço: Rua Primeiro de Março 66, Centro – Rio de Janeiro
Debatedores: Eduardo Dussek Leo Jaime
Mediação: Mauro Ferreira
Classificação indicativa: 16 anos
ENTRADA FRANCA - mediante retirada de senha, distribuída com uma hora de antecedência.


* Depois rola um pocket show com Eduardo Dussek *

 

domingo, 7 de agosto de 2011

TEXTO | AS RUAZINHAS, Mario Quintana

onde moro.


Eu amo de um amor que jamais saberei expressar
Essas pequenas ruas com suas casas de porta e janela,
Ruas tão nuas
Que os lampiões fazem às vezes de álamos,
com toda a vibratilidade dos álamos, petrificada nos troncos
                                                                                        [imóveis de ferro,
Ruas que me parecem tão distantes
E tão perto
A um tempo
Que eu as olho numa triste saudade de quem já tivesse morrido.
Ruas como as que a gente vê em certos quadros,
Em certos filmes:
Meu Deus, aquele reflexo, à noite, nas pedras irregulares
                                                                                        [do calçamento,
Ou a ensolarada miséria daquele muro a perder o reboco...
Para que eu vos ame tanto
Assim,
Minhas ruazinhas de encanto e desencanto,
É que expressais alguma coisa minha...
Só para mim!

_Mario Quintana

TEXTO | ULTIMATUM (Álvaro de Campos)

Foto que tirei hoje na Comunidade Parque Rafael de Oliveira, em Guadalupe. As pessoas vivem assim: casas de papel na beira de um valão.


Mandado de despejo aos mandarins da Europa!Fora.
Fora tu, Anatole-France, Epicuro de farmacopeia-homeopática, ténia-Jaurès do Ancien-Régime, salada de Renan-Flaubert em louça do século dezassete, falsificada!
         Fora tu, Maurice-Barrès, feminista da Acção, Chateaubriand de paredes nuas, alcoviteiro de palco da pátria de cartaz, bolor da Lorena, algibebe dos mortos dos outros, vestindo do seu comércio!
         Fora tu, Bourget das almas, lamparineiro das partículas alheias, psicólogo de tampa de brasão, reles snob plebeu, sublinhando a régua de lascas os mandamentos da lei da Igreja!
         Fora tu, mercadoria Kipling, homem-prático do verso, imperialista das sucatas, épico para Majuba e Colenso, Empire-Day do calão das fardas, tramp-steamer da baixa imortalidade!
         Fora! Fora!
         Fora tu, George-Bernard-Shaw, vegetariano do paradoxo, charlatão da sinceridade, tumor frio do ibsenismo, arranjista da intelectualidade inesperada, Kilkenny-Cat de ti próprio, Irish-Melody calvinista com letra da Origem-das-Espécies!
         Fora tu, H. G. Wells, ideativo de gesso, saca-rolhas de papelão para a garrafa da Complexidade!
         Fora tu, G. K. Chesterton, cristianismo para uso de prestidigitadores, barril de cerveja ao pé do altar, adiposidade da dialéctica cockney com o horror ao sabão influindo na limpeza dos raciocínios!
         Fora tu, Yeats da céltica-bruma à roda de poste sem indicações, saco de podres que veio à praia do naufrágio do simbolismo inglês!
         Fora! Fora!
         Fora tu, Rapagnetta-Annunzio, banalidade em caracteres gregos, «D. Juan em Pathmos» (solo de trombone)!
         E tu, Maeterlinck, fogão do Mistério apagado!
         E tu Loti, sopa salgada fria!
         E finalmente tu, Rostand-tand-tand-tand-tand-tand-tand-tand!
         Fora! Fora! Fora!
         E se houver outros que faltem, procurem-nos por aí pra um canto!
         Tirem isso tudo da minha frente!
         Fora com isso tudo! Fora!

 Ai! que fazes tu na celebridade, Guilherme-Segundo da Alemanha, canhoto maneta do braço esquerdo, Bismarck sem tampa a estorvar o lume?!
         Quem és tu, tu da juba socialista, David-Lloyd-George, bobo de barrete frígio feito de Union Jacks?!
         E tu, Venizelos, fatia de Péricles com manteiga, caída no chão de manteiga para baixo?
         E tu, qualquer outro, todos os outros, açorda Briand-Dato. Boselli da incompetência ante os factos todos os estadistas pão-de-guerra que datam de muito antes da guerra! Todos! todos! todos! Lixo, cisco, choldra provinciana, safardanagem intelectual!
         E todos os chefes de estado, incompetentes ao léu, barris de lixo virados para baixo à porta da Insuficiência da Época!
         Tirem isso tudo da minha frente!
         Arranjem feixes de palha e ponham-nos a fingir gente que seja outra!
         Tudo daqui para fora! Tudo daqui para fora!
         Ultimatum a eles todos, e a todos os outros que sejam como eles todos!
         Senão querem sair, fiquem e lavem-se. 


Falência geral de tudo por causa de todos!
         Falência geral de todos por causa de tudo!
         Falência dos povos e dos destinos — falência total!
         Desfile das nações para o meu Desprezo!
         Tu, ambição italiana, cão de colo chamado César!
         Tu, «esforço francês», galo depenado com a pele pintada de penas! (Não lhe dêem muita corda senão parte-se!)
         Tu, organização britânica, com Kitchener no fundo do mar mesmo desde o princípio da guerra!
         (It 's a long, long way to Tipperary and a jolly sight longer way to Berlin!)
         Tu, cultura alemã, Esparta podre com azeite de cristismo e vinagre de nietzschização, colmeia de lata, transbordamento imperialóide de servilismo engatado!
         Tu, Áustria-súbdita, mistura de sub-raças, batente de porta tipo K!
         Tu, Von Bélgica, heróica à força, limpa a mão à parede que foste!
         Tu, escravatura russa, Europa de malaios, libertação de mola desoprimida porque se partiu!
         Tu, «imperialismo» espanhol, salero em política, com toureiros de sambenito nas almas ao voltar da esquina e qualidades guerreiras enterradas em Marrocos!
         Tu, Estados Unidos da América, síntese-bastardia da baixa-Europa, alho da açorda transatlântica nasal do modernismo inestético!
         E tu, Portugal-centavos, resto da Monarquia a apodrecer República, extrema-unção-enxovalho da Desgraça, colaboração artificial na guerra com vergonhas naturais em África!
         E tu, Brasil, «república irmã», blague de Pedro-Álvares-Cabral, que nem te queria descobrir!
         Ponham-me um pano por cima de tudo isso!
         Fechem-me isso à chave e deitem a chave fora!
         Onde estão os antigos, as forças, os homens, os guias, os guardas?
         Vão aos cemitérios, que hoje são só nomes nas lápides!
         Agora a filosofia é o ter morrido Fouillée!
         Agora a arte é o ter ficado Rodin!
         Agora a literatura é Barrès significar!
         Agora a crítica é haver bestas que não chamam besta ao Bourget!
         Agora a política é a degeneração gordurosa da organização da incompetência!
         Agora a religião é o catolicismo militante dos taberneiros da fé, o entusiasmo cozinha-francesa dos Maurras de razão-descascada, é a espectaculite dos pragmatistas cristãos, dos intuicionistas católicos, dos ritualistas nirvânicos, angariadores de anúncios para Deus!
         Agora é a guerra, jogo do empurra do lado de cá e jogo de porta do lado de lá!
         Sufoco de ter só isto à minha volta!
         Deixem-me respirar!
         Abram todas as janelas!
         Abram mais janelas do que todas as janelas que há no mundo! 
Álvaro de Campos



Publicação original do texto Ultimatum, no Jornal Portugal Futurista de 1917.

 -- --

VERSÃO DE MARIA BETHÂNIA

Em 2007 Maria editou o texto completamente atual de Álvaro de Campos e recitava em seus shows. No fim do seu documentário - Maria Bethânia, pedrinha de Aruanda - o texto é recitado. Assim descobri este texto e fiquei perplexa com ele !

Vale a pena ouvir, com atenção, tudo que ela fala aqui.

TEXTO | PALCO DA VIDA



Você pode ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não se esqueça de que sua vida é a maior empresa do mundo. E você pode evitar que ela vá à falência.

Há muitas pessoas que precisam, admiram e torcem por você. Gostaria que você sempre se lembrasse de que ser feliz não é ter um céu sem tempestade, caminhos sem acidentes, trabalhos sem fadigas, relacionamentos sem desilusões.

Ser feliz é encontrar força no perdão, esperança nas batalhas, segurança no palco do medo, amor nos desencontros.

Ser feliz não é apenas valorizar o sorriso, mas refletir sobre a tristeza. Não é apenas comemorar o sucesso, mas aprender lições nos fracassos. Não é apenas ter júbilo nos aplausos, mas encontrar alegria no anonimato.

Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.

Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da  própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma.

Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um "não". É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.

Ser feliz é deixar viver a criança livre, alegre e simples, que mora dentro de cada um de nós. É ter maturidade para falar "eu errei". É ter ousadia para dizer "me perdoe". É ter sensibilidade para expressar "eu preciso de você”. É ter capacidade de dizer "eu te amo". É ter humildade da receptividade.

Desejo que a vida se torne um canteiro de oportunidades para você ser feliz... E, quando você errar o caminho, recomece, pois assim você descobrirá que ser feliz não é ter uma vida perfeita, mas usar as lágrimas para irrigar a tolerância.

Usar as perdas para refinar a paciência.
Usar as falhas para lapidar o prazer.
Usar os obstáculos para abrir as janelas da inteligência.

Jamais desista de si mesmo.
Jamais desista das pessoas que você ama.
Jamais desista de ser feliz, pois a vida é um espetáculo imperdível, ainda que se apresentem dezenas de fatores a demonstrarem o contrário.
Pedras no caminho? Guardo todas... Um dia vou construir um castelo!

Fernando Pessoa 
(tenho dúvidas dessa autoria, procurei em vários sites que mostram ser mesmo de FP, mas deixo aqui registrado que tenho dúvidas, até ver em algum livro dele. De qualquer forma o texto é manero, por isso o trouxe pra cá.)

_ se alguém souber em que livro de Fernando Pessoa, Alberto Caeiro ou qualquer outro pseudônimo dele está o texto acima, por favor, me conte.

EXPOSIÇÃO | O SAL DA TERRA

Fotografias de Wolney Teixeira. Fotos tiradas entre 1930 e 1970


As transformações na geografia física e humana da Região dos Lagos, do início ao final do século XX, é o tema da exposição "Wolney Teixeira - O sal da terra" do fotógrafo Wolney Teixeira, em cartaz na Caixa Cultural. Na mostra, com curadoria de Mauro Trindade, o artista apresenta 50 registros de acontecimentos sociais em Cabo Frio e da rotina de seus moradores, além das belezas naturais da Laguna de Araruama e os arredores. Imagens de personalidades e políticos brasileiros como Pixinguinha, Jânio Quadros e Luis Carlos Prestes também integram a exposição. 


Fotografei escondida, com câmera do celular.





----
CAIXA CULTURAL
Av. Chile, 230. Centro
Rio de Janeiro - RJ
10h as 18h - terça a sexta
14h as 18 - sábado, domingo e feriado

sábado, 6 de agosto de 2011

DOCUMENTÁRIO | PEDRINHA DE ARUANDA


A intimidade de Maria Bethânia a partir da comemoração de seu aniversário de 60 anos, celebrado durante uma apresentação em Salvador e numa missa em Santo Amaro, sua cidade natal, em 2006. Neste comovente relato de vida, vemos Bethânia, Caetano e Dona Canô sentados na varanda rodeados de família e amigos, cantando músicas e cirandas que fazem parte de suas vidas. Dona Canô é uma graça. Com sua voz doce e melodiosa, conversa e ri a vontade, mesmo diante das lentes de Andrucha Waddington, que a certa altura percebemos estar integrado e ser ele também, um amigo da família.

Foi a própria Maria Bethânia quem convidou o diretor Andrucha Waddington a registrar os festejos de seu aniversário de 60 anos. O convite ocorreu apenas um dia antes do show, o que fez com que fosse necessário fechar uma equipe de filmagem às pressas. - As filmagens de Maria Bethânia - Pedrinha de Aruanda duraram apenas 4 dias. - Estreou nos cinemas em 14 de setembro de 2007, no mesmo fim de semana em que Dona Canô completou 100 anos. - O orçamento de Maria Bethânia - Pedrinha de Aruanda foi de R$ 400 mil. 


---
título original:Maria Bethânia - Pedrinha de Aruanda
gênero:Documentário
duração:1 hr 1 min
ano de lançamento: 2007

estúdio: Quitanda Produções / Conspiração Filmes
distribuidora: Filmes do Estação
direção: Andrucha Waddington
roteiro: Maria Bethânia, Andrucha Waddington e Sérgio Mekler
produção: Andrucha Waddington

fotografia: Ricardo Della Rosa, Flávio Zangrandi, Dudu Miranda e Fábio Sagattio
edição: Sérgio Mekler e Quito Ribeiro






LIVRO | O OUTONO DO PATRIARCA





Gabriel García Márquez já se referiu a "O Outono do Patriarca" como um poema sobre a solidão do poder. 

Primeiro romance depois de "Cem Anos de Solidão" (1967), esta obra, publicada em 1975, representa uma alegoria do autoritarismo na América Latina. Através dos delírios de um ditador quimérico, lendário, arqueológico, o autor erigiu outra de suas catedrais literárias. Há mais de um século no comando, o patriarca de García Márquez faz o tempo avançar e retroceder em monólogos que comportam diálogos, construídos com imagens que evocam a loucura e o lirismo, descentrando a história, a geografia, a linguagem. 

Assim "O Outono do Patriarca" traz a saga de um ditador com idade indefinida entre 107 e 232 anos, vagando num universo onde tudo conduz à lembrança do tempo acumulado. No palácio presidencial, onde pastam vacas, o patriarca é um solitário entre concubinas, perseguido por um apetite sexual senil, ouvindo harpas ao vento e a subida das marés, atrasando relógios e maquinando em um cenário em que galinhas errantes bicam móveis e cadáveres, a solidão precipita o terror e desfralda a superstição em um imenso bazar da mitologia sobre o poder no continente. 

As formigas mortais do último capítulo de "Cem Anos de Solidão" compõem uma epígrafe deste outono anunciado. São obras-primas, que se completam, se seguem, constituindo as fabulações insuperáveis. "O Outono do Patriarca" é um dos melhores momentos do gênio criativo do mestre do realismo mágico.

Ler esse livro é continuar, continuar, notar as leves mudanças da narrativa, de quem está falando, do passado e do presente e escutar os absurdos da maneira mais natural possível. Um dos livros q mais me surpreendeu nas primeiras páginas e não me decepcionou.

O curioso é que parece que o próprio texto guarda em si uma certa ascendência ditatorial sobre o leitor. É ele que conduz. É ele que decide o ritmo e a duração dos trechos da longa viagem. Atracar num ponto final que te permita respirar nem sempre é possível, não restando outra opção senão ser levado pela correnteza.


É um livro exigente, quem o decifra fica com o gosto de ter participado de uma intensa aventura literária.

_meu livro do momento//

CINE CLUBE CASA DA CIÊNCIA - UFRJ





O cineclube da UFRJ exibe hoje mais um filme seguido de debate.

O objetivo é estimular a produção e circulação de novas ideias. A atividade é indicada para o público a partir dos 16 anos.

FILME DE HOJE:
Fahrenheit 451 (Reino Unido, 1966, 112 min.), de François Truffaut.

PALESTRA:
Entre a escrita e a imagem, de Marcia Tiburi - filósofa, doutora em Filosofia pela UFRGS e professora de pós-graduação em Educação, Arte e História da Cultura da Universidade Mackenzie. Publicou, dentre outros livros, Filosofia em comum, Filosofia brincante e Olho de vidro.


----
CASA DA CIÊNCIA - UFRJ
Rua Lauro Müller, 3 - Botafogo
Rio de Janeiro - RJ
(21) 2542-7494
Entrada franca
Às 16h

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

PROJETO | QUARTA ÀS QUATRO

A atriz Maitê Proença é a primeira convidada do Quarta às Quatro 2011. Ela vai falar sobre a A Crônica Feminina, aproveitando o clima da exposição Brasil Feminino, que retrata a saga das brasileiras que lutaram e mudaram a história das mulheres no país.

Em seu sexto ano de atividades, o programa Quarta às Quatro na Biblioteca Nacional tem novo tema para 2011: “De João do Rio a Drummmond, a crônica da cidade”.

Entre 3 de agosto e 7 de dezembro, um escritor, cronista, pesquisador ou crítico literário apresentará, semanalmente, uma crônica falada da cidade ou falará sobre um grande cronista brasileiro. Veja abaixo a programação completa.



O evento tem entrada franca e é transmitido on line pelo Instituto Embratel através do site http://www.institutoembratel.com.br/


Curadoria: Vitor Iorio

Fundação Biblioteca Nacional
Auditório Machado de Assis
Rua México, s/n - Centro - Acesso pelo jardim.



terça-feira, 2 de agosto de 2011

CONTO | A BELA E A FERA OU A FERIDA GRANDE DEMAIS



Começa:


Bem, então saiu do salão de beleza pelo elevador do Copacabana Palace Hotel. O chofer não estava lá. Olhou o relógio: eram quatro horas da tarde. E de repente lembrou-se: tinha dito a "seu" José para vir buscá-la às cinco, não calculando que não faria as unhas dos pés e das mãos, só a massagem. Que devia fazer? Tomar um táxi? Mas tinha consigo uma nota de quinhentos cruzeiros e o homem do táxi não teria troco. Trouxera dinheiro porque o marido lhe dissera que nunca se deve andar sem nenhum dinheiro. Ocorreu-lhe voltar ao salão de beleza e pedir dinheiro. Mas - mas era uma tarde de maio e o ar fresco era uma flor aberta com o seu perfume. Assim achou que era maravilhoso e inusitado ficar de pé na rua - ao vento que mexia com os seus cabelos. Não se lembrava quando fora a última vez que estava sozinha consigo mesma. Talvez nunca. Sempre era ela - com outros, e nesses outros ela se refletia e os outros refletiam-se nela. Nada era – era puro, pensou sem se entender. Quando se viu no espelho – a pele trigueira pelos banhos de sol faziam ressaltar as flores douradas perto do rosto nos cabelos negros – conteve-se para não exclamar um “ah!” – pois ela era cinqüenta milhões de unidades de gente linda. Nunca houve – em todo o passado do mundo – alguém que fosse como ela. E, depois, em três trilhões de trilhões de ano – não haveria uma moça exatamente como ela.

“Eu sou uma chama acesa! E rebrilho e rebrilho toda essa escuridão!”

Este momento era único – e ela teria durante a vida milhares de momentos únicos. Até suou frio na testa, por tanto lhe ser dado e por ela avidamente tomado.

“A beleza pode levar à espécie de loucura que é a paixão.” Pensou: “estou casada, tenho três filhos, estou segura.”

Ela tinha um nome a preservar: era Carla de Sousa e Santos. Eram importantes o “de” e o “e”: marcavam classe e quatrocentos anos de carioca. Vivia nas manadas de mulheres e homens que, sim, que simplesmente “podiam”. Podiam o quê? Ora, simplesmente podiam. E ainda por cima, viscosos pois que o “podia” deles era bem oleado nas máquinas que corriam sem barulho de metal ferrugento. Ela, que era uma potência. Uma geração de energia elétrica. Ela, que para descansar usava os vinhedos do seu sítio. Possuía tradições podres mas de pé. E como não havia nenhum novo critério para sustentar as vagas e grandes esperanças, a pesada tradição ainda vigorava. Tradição de quê? De nada, se se quisesse apurar. Tinha a seu favor apenas o fato de que os habitantes tinham uma longa linhagem atrás de si, o que, apesar de linhagem plebéia, bastava para lhes dar uma certa pose de dignidade.

Pensou assim, toda enovelada: “Ela que, sendo mulher, o que lhe parecia engraçado ser ou não ser, sabia que se fosse homem, naturalmente seria banqueiro, coisa normal que acontece entre os “dela”, isto é, de sua classe social, à qual o marido, porém, alcançara com muito trabalho e que o classificava de “self made man” enquanto ela não era uma “self made woman”. No fim do longo pensamento, pareceu-lhe que – que não pensara em nada.

Um homem sem uma perna, agarrando-se numa muleta, parou diante dela e disse:

- Moça, me dá um dinheiro para eu comer?

“Socorro!!!” gritou-se para si mesma ao ver a enorme ferida na perna do homem. “Socorre-me, Deus”, disse baixinho.

Estava exposta àquele homem. Estava completamente exposta. Se tivesse marcado com “seu” José na saída da Avenida Atlântica, o hotel que ficava o cabeleireiro não permitiria que “essa gente” se aproximasse. Mas na Avenida Copacabana tudo era possível: pessoas de toda a espécie. Pelo menos de espécie diferente da dela. “Da dela?” “Que espécie de ela era para ser ‘da dela’?” Ela – os outros. Mas, mas a morte não nos separa, pensou de repente e seu rosto tomou ar de uma máscara de beleza e não beleza de gente: sua cara por um momento se endureceu.

Pensamento do mendigo: “essa dona de cara pintada com estrelinhas douradas na testa, ou não me dá ou me dá muito pouco”. O correu-lhe então, um pouco cansado: “ou dá quase nada”.

Ela espantada: como praticamente não andava na rua – era de carro de porta à porta – chegou a pensar: ele vai me matar? Estava atarantada e perguntou:

- Quanto é que se costuma dar?

- O que a pessoa pode dar e quer dar - respondeu o mendigo espantadíssimo.

Ela, que não pagava o salão de beleza, o gerente deste mandava cada mês sua conta para a secretária do marido. “Marido”. Ela pensou: o marido o que faria com o mendigo? Sabia que: nada. Eles não fazem nada. E ela – ela era “eles” também. Tudo o que pode dar? Podia dar o banco do marido, poderia lhe dar seu apartamento, sua casa de campo, suas jóias...

Mas alguma coisa que era uma avareza de todo o mundo, perguntou:

- Quinhentos cruzeiros basta? É só o que eu tenho.

O mendigo olhou-a espantado.

- Está rindo de mim, moça?

- Eu?? Não estou não, eu tenho mesmo os quinhentos na bolsa...

Abriu-a, tirou-lhe a nota e estendeu-a humildemente ao homem, quase lhe pedindo desculpas.

O homem perplexo.

E depois rindo, mostrando as gengivas quase vazias:

- Olhe – disse ele -, ou a senhora é muito boa ou não está bem da cabeça... Mas, aceito, não vá dizer depois que roubei, ninguém vai me acreditar. Era melhor me dar trocado.

- Eu não tenho trocado, só tenho essa nota de quinhentos.

O homem pareceu assustar-se, disse qualquer coisa quase incompreensível por causa da má dicção de poucos dentes.

Enquanto isso a cabeça dele pensava: comida, comida, comida boa, dinheiro, dinheiro.

A cabeça dela era cheia de festas, festas, festas. Festejando o quê? Festejando a ferida alheia? Uma coisa os unia: ambos tinham uma vocação por dinheiro. O mendigo gastava tudo o que tinha, enquanto o marido de Carla, banqueiro, colecionava dinheiro. O ganha-pão era a Bolsa de Valores, e inflação, e lucro. O ganha-pão do mendigo era a redonda ferida aberta. E ainda por cima, devia ter medo de ficar curado, adivinhou ela, porque, se ficasse bom, não teria o que comer, isso Carla sabia: “quem não tem bom emprego depois de certa idade...” Se fosse moço, poderia ser pintor de paredes. Como não era, investia na ferida grande em carne viva e purulenta. Não, a vida não era bonita.

Ela se encostou na parede e resolveu deliberadamente pensar. Era diferente porque não tinha o hábito e ela não sabia que pensamento era visão e compreensão e que ninguém podia se intimar assim: pense!

Bem. Mas acontece que resolver era um obstáculo. Pôs-se então a olhar para dentro de si e realmente começaram a acontecer. Só que tinha os pensamentos mais tolos. Assim: esse mendigo sabe inglês? Esse mendigo já comeu caviar, bebendo champanhe? Eram pensamentos tolos porque claramente sabia que o mendigo não sabia inglês, nem experimentara caviar e champanhe. Mas não pôde se impedir de ver nascer em si mais um pensamento absurdo: ele já fez esportes de inverno na Suíça?

Desesperou-se então. Desesperou-se tanto que lhe veio o pensamento feito de duas palavras apenas “Justiça Social”.

Que morram todos os ricos! Seria a solução, pensou alegre. Mas – quem daria dinheiro aos pobres?

De repente – de repente tudo parou. Os ônibus pararam, os carros pararam, os relógios pararam, as pessoas na rua imobilizaram-se – só seu coração batia, e para quê?

Viu que não sabia gerir o mundo. Era uma incapaz, com cabelos negros e unhas compridas e vermelhas. Ela era isso: como uma fotografia colorida fora de foco. Fazia todos os dias a lista do que precisava ou queria fazer no dia seguinte – era desse modo que se ligara ao tempo vazio. Simplesmente ela não tinha o que fazer. Faziam tudo por ela. Até mesmo os dois filhos – pois bem, fora o marido que determinara que teriam dois...

“Tem-se que fazer força para vencer na vida”, dissera-lhe o avô morto. Seria ela, por acaso, “vencedora”? Se vencer fosse estar em plena tarde clara na rua, a cara lambuzada de maquilagem e lantejoulas douradas... Isso era vencer? Que paciência tinha que ter consigo mesma. Que paciência tinha que ter para salvar a sua própria vida. Salvar de quê? Do julgamento? Mas quem julgava? Sentiu a boca inteiramente seca e a garganta em fogo – exatamente como quando tinha que se submeter a exames escolares. E não havia água! Sabe o que é isso – não haver água?

Quis pensar em outra coisa e esquecer o difícil momento presente. Então lembrou-se de frases de um livro póstumo de Eça de Queirós que havia estudado no ginásio: “O lago de Tiberíade resplandeceu transparente, coberto de silêncio, mais azul que o céu, todo orlado de prados floridos, de densos vergeis, de rochas de pórfiro, e alvos terrenos por entre os palmares, sob o vôo das rolas.”

Sabia de cor porque, quando adolescente, era muito sensível a palavras e porque desejava para si mesma o destino de resplendor do lago de Tiberíade.

Teve uma vontade inesperadamente assassina: a de matar todos os mendigos do mundo! Somente para que ela, depois da matança, pudesse usufruir em paz seu extraordinário bem-estar.

Não. O mundo não sussurrava.

O mundo gri-ta-va!!! Pela boca desdentada desse homem.

A jovem senhora do banqueiro pensou que não ia suportar a falta de maciez que se lhe jogavam no rosto tão maquilado.

E A festa? Como diria na festa, quando dançasse, como diria ao parceiro que a teria entre os braços... O seguinte: olhe, o mendigo também tem sexo, disse que tinha onze filhos. Ele não vai a reuniões sociais, ele não sai nas colunas do Ibrahim, ou do Zózimo, ele tem fome de pão e não de bolos, ele na verdade só quer comer mingau pois não tem dentes para mastigar carne... “Carne?” Lembrou-se vagamente que a cozinheira dissera que o “filet mignon” subira de preço. Sim. Como poderia ela dançar? Só se fosse uma dança doida e macabra de mendigos.

Não, ela não era mulher de ter chiliques e fricotes e ir desmaiar ou se sentir mal. Como algumas de suas “coleguinhas” de sociedade. Sorriu um pouco ao pensar em termos de “coleguinhas”. Colegas em quê? Em se vestir bem? Em dar jantares para trinta, quarenta pessoas?

Ela mesma aproveitando o jardim no verão que se extinguia dera uma recepção para quantos convidados? Não, não queria pensar nisso, lembrou-se (por que sem o mesmo prazer?) das mesas espalhadas sobre a relva, a luz de vela... “luz de vela”? pensou, mas eu estou doida? Eu caí num esquema? Num esquema de gente rica?

“Antes de casar era de classe média, secretária do banqueiro com quem se casara agora e agora – agora luz de velas. Estou é brincando de viver, pensou, a vida não é isso.”

“A beleza pode ser de uma grande ameaça.” A extrema graça se confundiu com uma perplexidade e uma funda melancolia. “A beleza assusta”. “Se eu não fosse tão bonita teria tido outro destino”, pensou ajeitando as flores douradas sobre os negríssimos cabelos.

Ela uma vez vira uma amiga inteiramente de coração torcido e doído e doido de forte paixão. Então não quisera nunca experimentar. Sempre tivera medo das coisas belas demais ou horríveis demais: é que não sabia em si como responder-lhes e se responderia se fosse igualmente bela ou igualmente horrível.

Estava assustada quando vira o sorriso de Mona Lisa, ali, à sua mão no Louvre. Como se assustara com o homem da ferida ou com a ferida do homem.

Teve vontade de gritar para o mundo: “Eu não sou ruim! Sou um produto nem sei de quê, como saber dessa miséria de alma”.

Para mudar de sentimento – pois que ela não os agüentava e já tinha vontade de, por desespero, dar um pontapé violento na ferida do mendigo -, para mudar de sentimentos pensou: este é o meu segundo casamento, isto é, o marido anterior estava vivo.

Agora entendia por que se casara da primeira vez e estava em leilão: quem dá mais? Quem dá mais? Então está vendida. Sim, casara-se pela primeira vez com o homem que “dava mais”, ela o aceitara porque ele era rico e era um pouco acima dela em nível social. Vendera-se. E o segundo marido? Seu casamento estava findando, ele com duas amantes... e ela tudo suportando porque um rompimento seria escandaloso: seu nome era por demais citado nas colunas sociais. E voltaria ela a seu nome de solteira? Até habituar-se ao seu nome de solteira, ia demorar muito. Aliás, pensou rindo de si mesma, aliás, ela aceitava este segundo porque ele lhe dava grande prestígio. Vendera-se às colunas sociais? Sim. Descobria isso agora. Se houvesse para ela um terceiro casamento – pois era bonita e rica -, se houvesse, com quem se casaria? Começou a rir um pouco histericamente porque pensara: o terceiro marido era o mendigo.

De repente perguntou ao mendigo:

- O senhor fala inglês?

O homem nem sequer sabia o que ela lhe perguntara. Mas, obrigado a responder pois a mulher já o comprara-o com tanto dinheiro, saiu pela evasiva.

- Falo sim. Pois não estou falando agora mesmo com a senhora? Por quê? A senhora é surda? Então vou gritar: FALO.

Espantada pelos enormes gritos do homem, começou a suar frio. Tomava plena consciência de que até agora fingira que não havia os que passam fome, não falam nenhuma língua e que havia multidões anônimas mendigando para sobreviver. Ela soubera sim, mas desviara a cabeça e tampara os olhos. Todos, mas todos – sabem e fingem que não sabem. E mesmo que não fingissem iam ter um mal-estar. Como não teriam? Não, nem isso teriam.

Ela era... Afinal de contas quem era ela?

Sem comentários, sobretudo porque a pergunta não durou um átimo de segundo: pergunta e resposta não tinham sido pensamentos de cabeça, eram de corpo.

Eu sou o Diabo, pensou lembrando-se do que aprendera na infância. E o mendigo é Jesus. Mas – o que ele quer não é dinheiro, é amor, esse homem se perdeu na humanidade como eu também me perdi.

Quis forçar-se a entender o mundo e só conseguiu lembrar-se de fragmentos de frases ditas pelos amigos do marido: “essas usinas não serão suficientes”. Que usinas, santo Deus? As do Ministro Galhardo? Teria ele usinas? A “energia elétrica... hidrelétrica”?

E a magia essencial de viver – onde estava agora? Em que canto do mundo? No homem sentado na esquina?

A mola do mundo é dinheiro? Fez-se ela a pergunta. Mas quis fingir que não era. Sentiu-se tão, tão rica que teve um mal-estar.

Pensamento do mendigo: “Essa mulher é doida ou roubou o dinheiro porque milionária ela não pode ser”, milionária era para ele apenas uma palavra e mesmo se nessa mulher ele quisesse encarnar uma milionária não poderia porque: onde se viu milionária ficar parada de pé na rua, gente? Então pensou: ela é daquelas vagabundas que cobram caro de cada freguês e com certeza está cumprindo alguma promessa?

Depois.

Depois.

Silêncio.

Mas de repente aquele pensamento gritado:

- Como é que eu nunca descobri que sou também uma mendiga? Nunca pedi esmola mas mendigo o amor de meu marido que tem duas amantes, mendigo pelo amor de Deus que me achem bonita, alegre, aceitável, e minha roupa de alma está maltrapilha...

“Há coisas que nos igualam”, pensou procurando desesperadamente outro ponto de igualdade. Veio de repente a resposta: eram iguais porque haviam nascido e ambos morreriam. Eram, pois, irmãos.

Teve vontade de dizer: olhe, homem, eu também sou uma pobre coitada, a única diferença é que sou rica. Eu... pensou com ferocidade, eu estou perto de desmoralizar o dinheiro ameaçando o crédito do meu marido na praça. Estou prestes a, de um momento para o outro, me sentar no fio da calçada. Nascer foi a minha pior desgraça. Tendo já pagado esse maldito acontecimento, sinto-me com direito a tudo.

Tinha medo. Mas de repente deu o grande pulo de sua vida: corajosamente sentou-se no chão. “Vai ver que ela é comunista!” pensou meio a meio o mendigo. “E como comunista teria direito às suas jóias, seus apartamentos, sua riqueza e até os seus perfumes.”

Nunca mais seria a mesma pessoa. Não que jamais tivesse visto um mendigo. Mas – mesmo este era em hora errada, como levada de um empurrão e derramar por isso vinho tinto em branco vestido de renda. De repente sabia: esse mendigo era feito da mesma matéria que ela. Simplesmente isso. O “porquê” é que era diferente. No plano físico eles eram iguais. Quanto a ela, tinha uma cultura mediana, e ele não parecia saber de nada, nem quem era o Presidente do Brasil. Ela, porém, tinha uma capacidade aguda de compreender. Será que estivera até agora com a Inteligência embutida? Mas se ela já há pouco, que estivera em contato com uma ferida que pedia dinheiro para comer – passou a só pensar em dinheiro? Dinheiro esse que sempre fora óbvio para ela. E a ferida, ela nunca a vira tão de perto...

- A senhora está se sentindo mal?

- Não estou mal... mas não estou bem, não sei...

Pensou: o corpo é uma coisa que estando doente a gente carrega. O mendigo se carrega a si mesmo.

- Hoje no baile a senhora se recupera e tudo volta ao normal – disse José.

Realmente no baile ela reverdeceria seus elementos de atração e tudo voltaria ao normal.

Sentou-se no banco do carro refrigerado lançando antes de partir o último olhar àquele companheiro de hora e meia. Parecia-lhe difícil despedir-se dele, ele era agora o “eu” alter-ego, ele fazia parte para sempre de sua vida. Adeus. Estava sonhadora, distraída, de lábios entreabertos com se houvesse à beira deles uma palavra. Por um motivo que ela não saberia explicar – ele era verdadeiramente ela mesma. E assim, quando o motorista ligou o rádio, ouviu que o bacalhau produzia nove mil óvulos por ano. Não soube deduzir nada com essa frase, ela que estava precisando de um destino. Lembrou-se de que em adolescente procurara um destino e escolhera cantar. Como parte de sua educação, facilmente lhe arranjaram um bom professor. Mas cantava mal, ela mesma sabia e seu pai, amante das óperas, fingira não notar que ela cantava mal. Mas houve um momento em que ela começou a chorar. O professor perplexo perguntara-lhe o que tinha.

- É que eu tenho medo de, de, de, de, cantar bem...

Mas você canta muito mal, dissera-lhe o professor.

- Também tenho medo, tenho medo também de cantar muito, muito mais mal ainda. Maaaaal mal demais! Chorava ela e nunca teve mais nenhuma aula de canto. Essa história de procurar a arte para entender só lhe acontecera uma vez – depois mergulhara num esquecimento que só agora, aos trinta e cinco anos de idade, através da ferida, precisava ou cantar muito mal ou cantar muito bem – estava desnorteada. Há quanto tempo não ouvia a chamada música clássica porque esta poderia tirá-la do sono automático em que vivia. Eu – estou brincando de viver. No mês que vem ia a New York e descobriu que essa ida era como uma nova mentira, como uma perplexidade. Ter uma ferida na perna – é uma realidade. E tudo na sua vida, desde quando havia nascido, tudo na sua vida fora macio como pulo do gato.

(No carro andando)

De repente pensou: nem lembrei de perguntar o nome dele.

1977


Último conto escrito por Clarice. Publicado em 1999 por seus filhos no livro A Bela e a Fera