“Eu não cheguei a ver a explosão da bomba de napalm; só me lembro que, de repente, eu vi o fogo me cercando. De repente, minhas roupas todas pegaram fogo, e eu sentia as chamas queimando meu corpo, especialmente meu braço…
Eu estava apavorada, porque de repente não vi mais ninguém perto de mim, só fogo e fumaça. Eu estava chorando e, milagrosamente, ao correr meus pés não ficaram queimados. Só sei que eu comecei a correr, correr e correr…
‘Esta é você, quando você estava ferida’, disseram eles. Eu não consegui acreditar que era eu, era uma foto aterrorizante. Eu acho que todas as pessoas deveriam ver essa foto, mesmo hoje” (Kim Phuc – BBC World Service).
A guerra do Vietnã deu lugar a muitas tragédias, algumas das quais são mais conhecidas que outras. A fotografia de uma menina correndo nua pela estrada, com sua pele ardendo por causa do napalm (substância à base de gasolina gelificada, utilizada como armamento militar), mudou a forma em que o mundo contemplava a guerra do Vietnã e, de fato, todas as guerras. Essa fotografia foi vista em todo o mundo e, posteriormente, ganhou o prêmio Pulitzer. A menina que aparece na fotografia é Kim Phuc.
Phan Thi Kim Phuc nasceu em 1963 e foi criada na aldeia de Trang Bang, situada a 30 minutos ao norte de Saigon. Durante a guerra do Vietnã, a estratégica Estrada 1 que atravessa a aldeia se transformou na principal rota de abastecimento entre Saigon e Phnom Penh.Em 8 de junho de 1972, um conselheiro militar americano coordenou o bombardeio com napalm da aldeia de Kim, o qual foi levado a cabo por vietcongues. Kim, de nove anos de idade, escapou do templo no qual havia se escondido com sua família. Dois de seus primos pequenos não sobreviveram ao ataque e Kim sofreu queimaduras muito graves.
Kim foi fotografada enquanto corria pela estrada gritando por causa das queimaduras em sua pele. Nick Ut, o fotógrafo da agência Associated Press, que estava ali cobrindo o ataque, tirou a fotografia da jovem Kim. Comovido pela sua dor, a levou com toda pressa a um hospital. Logo passou 14 meses se recuperando no Hospital Barsky, o hospital americano de Saigon, onde seu atendimento foi pago por uma fundação privada. A fotografia de Kim tomada por Ut segue sendo uma das imagens mais inesquecíveis da guerra do Vietnã.
Ninguém esperava que Kim Phuc sobrevivesse. Queimaduras de terceiro grau cobriam a metade de seu corpo e necessitariam muitas operações e anos de terapia. Aos dois anos, contra todo prognóstico e com a ajuda dos médicos que se dedicaram ao seu cuidado, foi capaz de voltar a sua aldeia, assim ela e sua família puderam começar a reconstruir suas vidas.
Em 1982, aos 10 anos desde a famosa fotografia, um fotógrafo alemão encontrou Kim. Enquanto Enquanto isso o governo a havia submetido a intermináveis entrevistas, funcionários comunistas a haviam levado a cidade de Ho Chi Minh para que aparecesse em filmes publicitários e havia sido obrigada a deixar a escola e voltar a sua província na qual, como “símbolo nacional da guerra”, estava submetida a uma supervisão cotidiana.
“Dez anos mais tarde, em 1982, tive que sofrer outra prova muito dura na minha vida. Eu havia ingressado na faculdade de medicina de Saigon, mas por desgraça os agentes do governo souberam um dia que eu era a menina da foto e vieram me buscar para me fazer trabalhar com eles e me utilizar como símbolo. Eu não queria e lhes supliquei: ‘Deixe-me estudar! É a única coisa que desejo’. Então, me proibiram imediatamente que seguisse estudando. Foi atroz. Não conseguia entender: por que eu? Porque eu não podia seguir estudando como meu amigos? Tinha a impressão de ter sido sempre uma vítima. Aos meus 19 anos havia perdido toda esperança e somente desejava morrer”.
Em 1986 Kim aproveitou uma oportunidade para viajar para estudar em Cuba, mas ali também teve que interromper seus estudos. Teve vários problemas de saúde, incluindo diabetes, a qual embaçou sua visão. Durante sua permanência em Cuba conheceu a Bui Huy Toan, outro estudante vietnamita. Se casaram em 1992 e passaram a lua-de-mel em Moscou. Em seu voo de volta a Cuba, o casal desertou quando seu avião aterrizou em Gander (Terranova) para reabastecer combustível. Com ajuda de pessoas se estabeleceram no Canadá.Em 1996, o fundo para o Vietnam Veterans Memorial (o monumento comemorativo aos veteranos do Vietnã) convidou Kim para as cerimônias do dia dos veteranos que tiveram lugar neste monumento em Washington D.C. Ali Kim se dirigiu a um grupo de milhares de veteranos da guerra do Vietnã. Lhes falou de suas experiências depois do ataque com napalm da sua aldeia e de como havia, por fim, encontrado a felicidade e a liberdade após anos de dor e sofrimento. Falou da paz e do perdão.
urante sua visita a Washington D.C. conheceu a Ron Gibbs, um veterano da guerra de Vietnã e membro da junta diretiva do fundo para o monumento comemorativo. Compartilharam suas experiências da guerra e suas esperanças para o futuro. Deste encontro nasceu a ideia da Fundação Kim.
“Como meus pais haviam me educado na fé do caodaísmo, que se pode definir como uma mistura do confucionismo, taoísmo, budismo e cristianismo, me pus a orar sem parar e a passar o tempo com leituras religiosas. Porém, nada podia aliviar meus sofrimentos nem fazer com que eu voltasse para a faculdade. A dúvida me torturava: “Se Deus existe, poderá me ajudar?”
Em certa ocasião, um amigo me levou a uma igreja cristã de Saigon. Ainda que minha alma estivesse sedenta de paz interior, me custava muito abraçar uma nova religião. Meu maior desejo era encontrar uma amizade, alguém a quem falar e confiar. Havia inclusive desenhado sua imagem em um papel. Um dia em que entrei na igreja vi uma moça sorridente sentada no meio do auditório vazio. Tornou-se amiga minha.Me senti melhor imediatamente, ainda que todavia sentisse um vazio interno. Somente quando encontrei a fé em mim mesma, se atenuou a dor das chagas do meu coração. Pouco depois o governo mandou demolir a igreja de Saigon e o pastor se foi.
Desde então, só e sem ajuda de ninguém, fui deixando que o sentimento de perdão crescesse em meu coração até que começou a me invadir uma imensa paz interior. Isto não ocorreu da noite para o dia, porque não há nada mais difícil que chegar a amar a seus inimigos. Ao invés de reagir de uma maneira “normal”, e dizer com ódio e desejo de vingança, optei pela compreensão, que certamente não se alcança em um dia”.
Durante uma apresentação em uma igreja nos Estados Unidos realizada em dezembro de 2003 Kim disse: “A dor nunca desapareceu. Apenas aprendi a lidar com ela.”
Ela se referiu a uma parte da Bíblia citada em Salmos 56, que ela achou de grande ajuda nos tempos duros: “Porque tens livrado minha alma da morte, e meus pés da queda, para que ande na presença de Deus na luz dos que vivem.”
Ela também demonstrou o poder do perdão. Publicamente manifestou seu perdão ao piloto que erroneamente havia lançado as bombas sobre sua aldeia. O homem disse: “É como um mundo inteiro que é tirado de meus ombros”. Phuc e o piloto se abraçaram emocionados.
Mesmo sem ter concluído seus estudos médicos Phuc deixou que encontrasse seu propósito na vida, “de compartilhar a importância de ter uma relação com Cristo assim como saber a importância da liberdade.”
Era o fogo das bombas que queimaram meu corpo. Era a habilidade dos doutores que repararam minha pele. Mas tomei da energia do amor de Deus para curar meu coração.”
“O tempo é muito curto, devemos falar as pessoas sobre Jesus Cristo. Devemos compartilhar o Evangelho com outros” – disse.
“O tempo é muito curto, devemos falar as pessoas sobre Jesus Cristo. Devemos compartilhar o Evangelho com outros” – disse.
Adorei o texto. Estava procurando informações sobre Kim Phuc e achei esse blog. Parabéns!
ResponderExcluirParabéns. Ótimas informações.
ResponderExcluir...e é verdade! lembro de ver num programa (talvez FANTÁSTICO) que aparece uma entrevista onde a jovem perdoava o atirador/e parece que o tal ao saber DA COISA TODA FICOU MAL.
ResponderExcluir* Um retorno cairia bem aqui.