quinta-feira, 24 de junho de 2010

HEY JUDE



Hey Jude, don't make it bad.

Take a sad song and make it better.
Remember to let her into your heart,
Then you can start to make it better.

Lembro-me com saudades desta música, tocada na vitrola de uma festinha numa cobertura perto do Copacabana Palace quando eu era adolescente. Talvez tenha sido a primeira vez que dancei coladinho com uma garota, tão tímida quanto eu, mas ao mesmo tempo tão diferente de mim, como o tempo mais tarde revelou.
Isto me veio a memória hoje, neste dia frio, pois incrivelmente quando sai pela manhã de carro, Hey Jude tocava num destes programas nostálgicos da Rádio JB. Cheguei até a me lembrar do casaco branco de lã que usava na tardinha, e dos cabelos escuros e curtos, o rosto avermelhado de frio e embaraço da garota com quem dançava.
Não tenho certeza absoluta se o seu nome era Angela, mas é bem provável que sim, uma vez que sempre associo este primeiro Hey Jude dançado a este nome, talvez pela singela representação que Angela possa ter.
Não fazia a menor idéia do que a música dizia, mas os seus maravilhosos intermináveis minutos, com os “da da da da da Hey Jude” do final, me fizeram ficar mais tempo com a minha Jude.
Os anos se passaram, outras Judes vieram e se foram, outras danças aconteceram e um dia destes revejo esta primeira Jude-Angela, que me reconhece e vem falar comigo.
Recorda dos tempos do colégio, fala sobre o que faz e já fez, porém de uma forma tão desconexa e delirante, que logo percebo quão fora do prumo, da régua e do compasso essa Angela-Jude hoje está.


And anytime you feel the pain, hey Jude, refrain,
Don’t carry the world upon your shoulders.
For well you know that it’s a fool who plays it cool
By making his world a little colder.

Despedi-me entristecido pela constatação que nem os Beatles e nem o tempo voltam jamais, e os “da da da” daquela época quem sabe sejam os “dadas” de hoje, na acepção do dadaísmo como a defesa do absurdo, da incoerência e do caos.
Aumento o volume do rádio, e mesmo desafinado, canto bem alto o “da da da” final de Hey Jude, mesmo com alguma lágrima caindo, ação certamente do vento frio desta manhã.

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Texto: João Siqueira
Foto: Luciana Monteiro

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