Lembro-me vagamente de um garoto magrinho jogando pião, amarrando com barbante de padaria, que fazia a vez da fieira, na pracinha do Bairro Peixoto, numa Copacabana que não mais existe.
Nunca fui um expert na nobre arte de lançar o pião, mas conseguia, esporadicamente faze-lo rodopiar na terra batida da pracinha, ainda novo e perfeito , sem cortes, marcas, desilusões ou entraves.
Naquele tempo a garotada se dividia em três grupos, o do pião, o da pipa e o da bolinha de gude. Este último grupo nunca me atraiu, pois na realidade era um jogo. O da pipa demandava um certo jeito para artesanato o que não era o meu forte e me encontrei com a introspecção do pião, pois convinha mais ao meu jeito de ser, uma vez que poderia prescindir de outros para jogar (ou assim pensava).
Observava o pião girando, rodopiando e caindo quando o movimento cessava.
Aí enrolava a fieira, e tentava novamente fazer o pião girar, talvez com um tempo maior para observar.
Como ainda não sabia nada sobre física quântica e a vida, não entendia que também o pião me observava e enquanto eu pensava que ele girava, quem girava para o pião era eu. Eu também pião na vida.
Revejo hoje o meu antigo pião e a letra da música me surgiu imediatamente:
“Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...”
Guardei meu pião, companheiro de giradas inesquecíveis e de caídas ainda maiores.
Procuro novamente uma fieira, a velha já não há, perdida nos desvãos do tempo, enrolo no pião, me encaminho para uma pracinha mágica e o lanço...
Veja como ele é bonito girando! Ao longe vejo um bilboquet no fundo do baú...
As fotos da Praça XV e as memórias se completam...
Texto: João Siqueira
Foto: Luciana Monteiro
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