segunda-feira, 5 de março de 2012

Fotógrafo Tim Walker e a presença do vazio

"Earthquake Damage", Whadwhan Palace, Gujarat, Índia, 2005.


Esta fotografia remete ao vazio pressentido entre as coisas, apesar das coisas, da presença que se faz ausência - e vice-versa. 


Uma das grandes evocações que as locações em ruínas trazem é a sensação de solidão, de abandono e de vazio, independente da cena estar ou não fisicamente vazia. Apesar da foto acima estar abarrotada com mobília, o primeiro impacto que se tem é de que há um vácuo no salão, há uma inquietante impressão de falta, como se ele estivesse desabitado. Vazio. Há um grande contraste entre o tamanho do recinto e o tamanho dos objetos que o ocupam, o que aumenta ainda mais a sensação de que o local está, de certa forma, desocupado - mal ocupado, com certeza. É incrível como o amontoado de coisas espalhadas pelos tapetes não são suficientes para transmitir essa sensação, inclusive visual, de preenchimento, de habitação.

À primeira vista, é provável que muitos nem notem a modelo (Lily Cole) em pé no canto esquerdo sobre a cristaleira. Ela se ausenta com seu mimetismo. Gosto da maneira como as cores do figurino a fazem se misturar ao ambiente como se ela fosse um objeto de decoração que subsistiu ao choque, em riste. Digo choque porque o título da foto é "danos de um terremoto", em tradução livre. Ela permanece de pé, inquebrável e, ao mesmo tempo, quase imperceptível. Com sua presença tênue, ela não chega a habitar verdadeiramente a cena, pelo contrário, ressalta ainda mais seu grande vazio. 

Um comentário:

  1. Muito interessante! Falar em mimetismo, da presença que se faz na ausência, na ausência que se percebe com a presença, faz muito sentido e realmente é um assunto que também me inquieta.

    Engraçado... Neste sábado postei uma foto evocando uma reflexão parecida, só que o "a modelo" da minha foto era um daqueles insetos mestres em mimetismo que encontramos na natureza, um bichinho folha, mas num lugar totalmente imprevisto, totalmente oposto ao seu habitat:

    Ele estava na copa do meu trabalho. Estranho porque é um lugar sem janela, todo azulejado, totalmente branco, pálido, e o bicho folha lá, com o seu verde mato exuberante que em nada servia ali para o esconder dos seus predadores ou caça(depende do ponto de vista).

    Mesmo assim, com ele ali, gritando aos olhos de qualquer pessoa avisada, a sua presença naturalmente passou desapercebida por muitos olhos modernos, urbanos, daqueles que chegam numa copa e só esperam enxergar "coisas de copa"...

    Existe ou não um condicionamento que limita a experiência com o que existe ao nosso redor?

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